O grupo formado pelos artistas Afrânio Montemurro, Alice Grou, Cecília Akemi, Cecília Stelini, Celina Carvalho, Fábio de Bittencourt, Mário Gravem Borges, Olivia Niemeyer e Paulo Cheida Sans busca uma reflexão sobre a possibilidade de reversão da violência, das questões ideológicas e dos conflitos globais.
O artista Mário Gravem Borges, com sua tela, faz sua reflexão sobre a Explosão: ” Não criamos nada, apenas transformamos” .
![mario](https://claudiacorbett.wordpress.com/wp-content/uploads/2009/10/mario1.jpg?w=655&h=360)
O título da obra, Ressurreição, remete à minha idéia da ressurreição do Cristo entendida como uma transformação interior. Inexpliável, acontece de dentro para fora na Criação e só é percebida pela evidência que gera e não pelo fenômeno em sí. A imagem que sugere formas fossilizadas representa uma colagem de muitas paisagens, com sutís evidências de explosões criando coisas e gerando mundos múltiplos.
A tela trabalha com o conceito de uma “arqueologia da idéia” : a permanência do que se conhece evidenciada pelos vestígios do que se passou. A tela – inteiramente em giglé sobre tela – é feita a partir de fotos de outras obras minhas em acrilico, e ‘costurada’ visualmente pelo recurso ‘ paint’ do computador. O procedimento evidencia seu processo de elaboração e emblematiza a permanência do estro manual na cibernética.
Celebra portanto a continuidade do espírito em crescimento em harmonia com seu meio natural e construído; é como se disséssemos que Deus, no Cristo, é a antítese da destruição, e explosão é a transformação: o contrário do terrorismo.
Nascido em Campinas, Mário Gravem Borges foi criado no Rio de Janeiro e na Filadélfia (EUA). Viveu 20 anos de sua vida profissional em Londres, Inglaterra. Fez exposições na Holanda e Alemanha. Nos anos 80, foi o primeiro artista brasileiro a realizar mostra individual no Institute of Contemporary Arts, ICA, de Londres. Sua obra foi publicada na Christie’s International Magazine, com trabalho exposto e vendido. Participou da coletiva “Artists at War”, em Chicago. Suas participações principais são: ICA, Dixon Gallery (London University); Christie’s, Londres; Padt & Co, Holanda; Bélgica, Alemanha, Monte Carlo e Mônaco; Aldo Castillo Gallery and Arts Foundation, Chicago, EUA; Galeria Seta, São Paulo; Galeria Campinas, Mac Campinas, Mac Americana, Masc Santa Catarina.
O ceramista Afrânio Montemurro, por exemplo, se inspirou no livro Syngué Sabour A Pedra de Paciência, do autor franco-afegão Aitq Rahimi. “No livro, o autor faz analogia com a mitologia persa que fala de uma pedra para a qual as pessoas falam de suas infelicidades, seus sofrimentos, suas dores, confiando à pedra, que escuta e absorve, como uma esponja, todas as palavras até que, de tanto acumular estes segredos, explode fazendo com que a pessoa se veja livre de todos os problemas”, explica Afrânio. Para a exposição, Afrânio modelou três cubos em argila de 21 centímetros de diâmetro, repletos de letras carimbadas, como três etapas que, na seqüência, vão mostrando a evolução da “Pedra de Paciência” até se explodir.
![Afranio_-_explosao_009 Afranio_-_explosao_009](https://claudiacorbett.wordpress.com/wp-content/uploads/2009/10/afranio_-_explosao_009.jpg?w=300&h=225)
Pedra de Paciência – Afrânio Montemurro
A obra Identidade, de Alice Grou, pretende levantar questões relacionadas à multiplicidade e à fragmentação a que está sujeita a identidade do ser humano na vida contemporânea. O trabalho consiste em um capacete de superfície triangular, de acrílico, com faces externas pretas e faces internas espelhadas, com exceção de uma delas, onde foi adesivada uma imagem fotográfica.
![DSCF4836 DSCF4836](https://claudiacorbett.wordpress.com/wp-content/uploads/2009/10/dscf48362.jpg?w=300&h=234)
Esfera – Cecília Akemi
Já Cecília Akemi, também ceramista, leva para a exposição a escultura Esfera, com um metro de altura e diâmetro de argila queimada a 1.240 graus. Para Akemi, a Esfera é a forma geométrica da explosão no espaço. “O meu trabalho com argila delimita a explosão representada na escultura, pelo ar e pelo vazio da obra”, conta.
Assim como Afrânio, Olívia Niemeyer se inspirou na literatura para criar a obra 25ª Hora, que remete ao livro do romeno Constantin Virgil Gheorghiu, onde está documentado o genocídio causado pelas duas guerras mundiais, no século 20. “A 25ª hora não é a última hora. É uma hora depois da última hora, é a hora atual, a hora certa. E é também a hora em que o homem desperta para novas idéias”, explica a artista. O trabalho consta de duas caixas de MDF, (1m x 1m), pintadas de preto e com uma tampa de PETG cristal (1m x 2m). Dentro, Olívia pretende acumular restos de construção, cinzas, objetos quebrados, vestígios da civilização, segundo ela, tão descuidada com as questões ambientais. O trabalho busca alertar para mais uma ameaça de destruição causada, desta vez, no século 21, por políticas ambientais e práticas econômicas pouco responsáveis.
A vídeo performance Desarma-me é a linguagem com o qual Cecília Stelini expõe sua visão de explosão. A idéia central deste projeto consiste em amarrar uma corda de sisal com nós ao redor da cintura, tornozelos e mãos e, em seguida, desamarrar, desatando os nós em uma representação de atitudes contrárias: prender para depois libertar, soltar as amarras, deixar ir. O vídeo, que tem 11 minutos de duração, simboliza não só a solução ou liberação, mas a crise ou a morte, apresentando assim seu caráter de ambivalência.
![gudrun gudrun](https://claudiacorbett.wordpress.com/wp-content/uploads/2009/10/gudrun1.jpg?w=655)
Gudrun I e II
O artista Fábio de Bittencourt apresenta, em Gudrun, duas pinturas em técnica mista sobre tela, retratos simbólicos da terrorista alemã Gudrun Enssilin, integrante do grupo Baader Meinhof, grupo de jovens terroristas na Alemanha da década de 1970 que viam o imperialismo norte-americano como uma nova faceta do nazismo vivido pelo país durante os anos de Hitler, e fundadora da RAF – Rote Armee Fraktion,organização guerrilheira e terrorista alemã de extrema-esquerda, fundada em 1970, na antiga Alemanha Ocidental, e dissolvida em 1998.
A idéia de Mauro Mendes Dias de unir seus textos com a arte surgiu depois do contato do psicanalista com a obra do chinês Cai Guo Qiang, que tem como principal meio artístico a pólvora, que utiliza em pequenos desenhos ou grandes explosões com fogos de artifício. Mauro tem realizado estudos sobre questões ligadas a homens, mulheres e crianças bombas. “O trabalho de Mauro, aliado às práticas do artista chinês, que fundem ciência e arte em um processo de destruição criativa, despertaram o interesse em desenvolver uma exposição com este tema”, conta Norma Vieira, proprietária do TOTE Espaço Cultural.
A exposição, que permanece no TOTE até 23 de novembro, conta com a curadoria das artistas Norma Vieira e Vera Orsini.
Serviço:
Exposição “Explosão”
Quando: de 23 de outubro a 23 de novembro
Abertura: 23 de outubro, às 20 horas
Onde: TOTE Espaço Cultural
Endereço: Rua D. Maria Franco Salgado, 260 – Sousas
Tel.: (19) 3258-9298
www.toteespacocultural.com.br